Bang Bang, a Fazenda que Planta Paz - Produzindo Certo
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Bang Bang, a Fazenda que Planta Paz

Como a Bang Bang transformou uma área famosa por conflitos em um modelo de respeito socioambiental

“Um lugar de paz”. A primeira coisa que o empresário Luiz Castelo plantou após adquirir a Fazenda Bang Bang, no município de São José do Xingu, no Mato Grosso, foi uma placa com essa frase. Isso aconteceu em 1993. De lá para cá, quase 30 anos depois, pode-se dizer que Castelo tem colhido o que semeou. E muito mais. A Bang Bang – que tem esse nome como herança de um tempo em que as discussões, por ali, costumavam ser resolvidas à bala – ajudou a transformar a imagem da região e virou exemplo de como se fazer recuperação socioambiental de uma propriedade rural.

Uma das primeiras propriedades a se juntar à Plataforma Produzindo Certo, a fazenda, na época em que foi comprada por Castelo, era utilizada para pecuária extensiva, com áreas abertas para pastagens, sem cuidados com a preservação de solo ou dos 41 olhos d’água espalhados por seus 13,4 mil hectares – muitos deles responsáveis pela formação do Rio Xingu. O empresário enfrentava constantes fiscalizações e viva sob o risco de pagar multas milionárias e ser incluído em listas de criminosos ambientais. Em 2004, porém, ele deu uma virada no jogo. E incluiu uma palavra no seu slogan: “Aqui é lugar de paz e de sustentabilidade”.

Placa na entrada da fazenda Bang Bang: "Um lugar de paz"
Placa na entrada da fazenda Bang Bang: “Um lugar de paz”

“Ele foi um dos pioneiros no reflorestamento aqui na região”, afirma Rodrigo Cigotti, genro de Castelo e hoje responsável pela administração da Bang Bang. “Enfrentou um grande desafio, que foi encontrar uma técnica adequada para fazer a recuperação das áreas de preservação permanente. Hoje, todo mundo usa essa mesma prática por aqui”.

O trabalho de recuperação das APPs começou com o plantio de mudas de espécies da região, que logo se mostrou inviável devido à escala e, portanto, aos investimentos necessários. Foi tentanda também uma técnica que consistia em espalhar folhas e galhos coletados do chão da floresta sobre as áreas degradadas, esperando que as sementes que iam junto brotassem. Também não funcionou. Castelo foi, então, pesquisar outras soluções e deparou com a muvuca, sistema de reflorestamento adotado pelo Instituto Socioambienbtal (ISA), em que as sementes nativas eram misturadas a areia e adubo e, então, aplicadas no terreno. A busca pelas sementes nativas, no mix certo, também movimentou parcerias com a comunidade da região, especialmente em aldeias indígenas, que passaram a receber para fazer a coleta delas nas suas reservas.

Luiz Castelo, dono da Fazenda Bang Bang em encontro com funcionários da fazenda
Luiz Castelo, dono da Fazenda Bang Bang em encontro com funcionários da fazenda

Para gerar escala, uma adaptação foi feita de forma a que se pudesse utilizar maquinário agrícola no processo. Assim, as plantadeiras usadas para semear soja cuidaram de espalhar as sementes de árvores amazônicas. Hoje, essa muvuca mecanizada disseminou-se e já foi aplicada em centenas de propriedades rurais. Na Bang Bang, todas as APPs foram recuperadas e as áreas com mata somam 4,6 mil hectares, cerca 30% da área total da fazenda. Outras duas áreas de preservação, localizadas em parques, somam-se a elas dentro dos compromissos ambientais da empresa.

O reflorestamento não termina, no entanto, no plantio das espécies nativas. Mantê-las exige atenção permanente dos proprietários, que hoje possuem uma equipe dedicada ao trabalho ambiental na Bang Bang. “Temos uma equipe direcionada permanentemente para o meio ambiente”, conta Cigotti. Três profissionais dedicados, com assessoria de engenheiros ambientais e florestais, trabalham o ano todo, a partir de um plano de metas estabelecido para esse fim, em ações de plantio, contenção de capim com aplicação de produtos nas áreas recém-plantadas, e instalação de cercas em APPs. “Nosso trabalho visa a melhoria contínua. Usamos o checklist da Produzindo Certo como referência para estabelecermos as metas. Fazemos o apontamento de como estamos, qual o nosso score socioambiental, e, a cada ano, indicamos aonde queremos chegar. No final do ano agrícola, as metas são cerificadas. Se atingirmos, os times têm bonificação”, explica.

PRODUÇÃO

Melhoria contínua é uma orientação que se espalha por todas as áreas da gestão da propriedade. A produção agropecuária, por exemplo, vem sofrendo transformações nos últimos anos para também se adequar cada vez mais às melhores práticas. Quando Castelo adquiriu a fazenda, o foco era 100% na pecuária. Na segunda metade da década de 2010, a Bang Bang passou a integrar um programa de produção de carnes de qualidade para o Grupo Pão de Açúcar, juntamente com outros criadores de gado da raça Rubia Gallega. O protocolo do programa, elaborado e verificado com assistência técnica da Produzindo Certo, exige uma série de compromissos socioambientais e todas os pecuaristas incluídos tiveram de se adequar a eles.

Rebanho Rubia Gallega: carne sustentável

“De lá para cá, tomamos uma série de ações que aperfeiçoaram o nosso manejo”, diz Cigotti. Mais recentemente, há cerca de quatro anos, decidiu-se aumentar as áreas de produção agrícola para permitir uma maior integração com a pecuária. Hoje, o rebanho médio da Bang Bang é de 9,5 mil cabeças (Ruiba Gallega e Nelore), criadas em ciclo completo. E as áreas de Integração Lavoura Pecuária (ILP) aumentam ano a ano.

Dos 9,4 mil hectares de área útil, cerca de 3,5 mil hectares são utilizados para lavouras de soja, milho e sorgo, o triplo do que era plantado há três anos. O restante é dedicado a pastagens. A meta de Cigotti é que esse número fique bem dividido entre as duas atividades. “Queremos ter 100% da área com ILP, de forma a intensficiar tanto a agricultura quanto a pecuária, gerando benefícios para todos”, explica.

Colheita de soja: integração da agricultura com a pecuária aumentou nos últimos anos

PROPÓSITO

Luiz Castelo hoje já não participa do dia a dia da gestão da propriedade. Seu legado, porém, espalha-se para além dos limites da fazenda. Em 2016, foi eleito prefeito de São José do Xingu, município de 6 mil habitantes, com quem teve uma relação de proximidade desde que pisou lá pela primeira vez. Logo nos primeiros anos à frente da Bang Bang, que fica praticamente colada à área urbana, ele desenvolveu programas que beneficiaram a população local. Há 13 anos, por exemplo, criou na fazenda o Centro de Desenvolvimento Humano (CDH), que promoveu uma série de ações educativas e culturais para a comunidade, como aulas de computação, concursos de música e pintura, atividades esportivas, entre outras. Em uma época em que praticamente não havia computadores na cidade, levou conexão para o local e fazia cursos à distância, via videoconferência, e promovia aulas de computação, mesmo para aqueles que não tinham relação com a Bag Bang.

Cigotti vê na parceria com a Produzindo Certo uma referência para os próximos passos também nas áreas sociais e trabalhista. “O checklist da Produzindo Certo é uma ótima ferramenta para o acompanhamento de nossa evolução”, diz. “Se pensar em resultado financeiro, não faz. Mas quando a gente acredita e vê que faz sentido, enxerga valor. Não deixa de ser um investimento que gera ganhos indiretos de eficiência no trabalho, na produtividade e até mesmo na rotatividade das equipes”. Segundo ele, uma prova disso é que hoje mais de 50% funcionários com mais de 10 anos de casa.

“Essas coisas só fazem sentido para quem tem um propósito muito grande”, diz Cigotti. “Castelo sempre diz que quer dar oportunidade para a geração futura. Era o desafio antes e é o nosso desafio atual”.

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