O Pará, na região Norte do Brasil, destaca-se pela vastidão territorial e riquezas naturais. Conhecido pela exuberante biodiversidade da Amazônia e pela imensidão de seus rios, o estado possui uma economia diversificada, onde a agropecuária desempenha papel fundamental.
É reconhecido nacionalmente pela produção de carne, grãos e especialmente de açaí, fruto típico da região amazônica. A pecuária, com a criação de gado bovino e bubalino, é um dos pilares econômicos do estado e contribui significativamente para o abastecimento do mercado nacional.
Outro grande destaque é a Ilha do Marajó. Localizada na foz do rio Amazonas, é a maior ilha fluviomarinha do mundo. Com uma rica biodiversidade e ecossistemas variados, a ilha é famosa pela criação de búfalos, que se tornaram um símbolo local, e atrai turistas do mundo todo com paisagens deslumbrantes e cultura singular, reforçando a importância do estado no cenário nacional.
Em julho, o Pará esteve no centro das discussões da nova edição da série Vozes Responsáveis, que a Produzindo Certo organiza desde 2021 com o objetivo de promover encontros com especialistas de diversas áreas relacionadas à produção sustentável.
Ao todo, foram quatro episódios sob o comando da Head de Pecuária da empresa, Carolina Barretto. Ela está à frente da implementação do projeto Valorizar para transformar, realizado junto com a ONG Aliança da Terra e com o aporte financeiro da Bezos Earth Fund, fundo de investimentos filantrópicos.
A iniciativa tem como objetivo apoiar a expansão da pecuária responsável em até 300 fazendas no Pará por meio da assistência técnica socioambiental. Isso inclui visitas técnicas para a aplicação do Protocolo Produzindo Certo, que consiste em um diagnóstico socioambiental e produtivo.
Esse diagnóstico gera um escore de sustentabilidade com pontuação de 0 a 100 para cada propriedade, oferecendo aos produtores e produtoras uma nova perspectiva sobre suas atividades e facilitando a tomada de decisão.
Desvendando o Pará
No primeiro episódio, conhecemos um pouco mais sobre o estado com o zootecnista Guilherme Minssen, diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) e leiloeiro rural.
Gaúcho e há mais de 40 anos no estado, ele destacou as vantagens que o Pará oferece aos produtores. “O Pará traz tudo que você precisa de um bioma para produzir, produzir com qualidade e produzir o ano inteiro”, disse ele durante o bate-papo.
Mas também há muitos desafios na região. Entender e respeitar o equilíbrio que o bioma exige é um deles. “Essa Amazônia te conquista, ela te ajuda em tudo. Por outro lado, você tem que entendê-la. Você tem que, óbvio, respeitar, entender e saber que aquele potencial que ela te dá é extraordinário”.
Outro desafio é compreender que não existe apenas uma Amazônia, mas várias. Mesmo no Pará, as regiões são muito diversas, com vantagens e necessidades diferentes. “A Federação trabalha com dez unidades regionais bem diferentes, nenhuma parecida com a outra, são muito diferentes”, reforçou ele.
Para Guilherme Minssen, dois fatores são fundamentais para o futuro dos produtores paraenses. “O produtor paraense só precisa de duas coisas: regras no ambiental e no fundiário. No dia que ele tiver isso ninguém mais segura o Pará”.
A visão das produtoras do estado
Os três episódios seguintes ouviram lideranças femininas do agro paraense. A diretora da Associação Paraense Pecuária Forte (APPF), da Faepa, e vice-presidente da Comissão das Mulheres do Agronegócio do Pará, Maria Centeno, ajudou a desvendar as nuances do estado na visão dos produtores e os possíveis caminhos para uma pecuária cada vez mais sustentável na Amazônia.
“O estado do Pará tem muitos desafios. Principalmente no que diz respeito as cobranças em cima do produtor. Eu acho que um dos desafios é o reconhecimento público de que o produtor rural no Pará, na sua grande maioria, está produzindo certo. É ser reconhecido como produtor que produz alimento, gera emprego e dá dignidade”, disse ela.
Já a produtora rural, diretora da Faepa e presidente da Comissão das Mulheres do Agronegócio do Pará, Cristina Malcher, destacou o protagonismo feminino no agro do estado.
“A gente agora é protagonista da nossa história, na nossa propriedade. E é isso que a gente quer mostrar para os homens, para o Brasil e para o mundo”.
Segundo ela, o estado deve liderar a produção de carne bovina nos próximos anos com tecnologia e sustentabilidade. “Em 50 anos, nós chegamos ao status de segundo maior produtor de proteína animal do Brasil. Então, eu acredito que muito em breve o Pará será o maior produtor de proteína animal bovina do país”.
Ainda para Cristina Malcher, a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém, no próximo ano, será fundamental para a imagem do produtor rural do Pará.
“Com a COP aqui em Belém nós teremos a oportunidade de mostrar a nossa pecuária, a nossa agricultura, a nossa forma de produzir aqui e com isso a gente tem a expectativa de que o mundo nos olhe da forma real que nós somos”.
O desafio da capacitação técnica
No quarto episódio da série — exibida no canal da Produzindo Certo no YouTube — os temas foram educação e capacitação técnica, dois grandes desafios do agro paraense.
A médica veterinária Rosirayna Remor, assessora técnica do Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado do Pará (FUNDEPEC), destacou a recente conquista sanitária do estado, que se tornou livre de febre aftosa sem vacinação e deve ganhar o reconhecimento oficial da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) no ano que vem.
“Foi um processo bem complicado porque era algo novo, obrigatório e que estava impactando o mercado no estado. Então foi preciso fazer um trabalho de porta em porta para convencer o produtor”, relatou ela.
Uma das estratégias nessa campanha, segundo a médica veterinária, foi entrar nas escolas para também ensinar as crianças sobre a importância da sanidade animal.
Vencida esta etapa, a pecuária do estado já tem um novo desafio: implantar o processo de rastreabilidade individual.
“Temos esse desafio de implantar esse processo do começo. Para mim, o maior desafio é a educação, a questão da capacitação técnica. Como o produtor pode ser incluso nesse processo? Como não deixar ninguém de fora?”, questionou Rosirayna Remor, se referindo aos diferentes portes e perfis de pecuaristas que existem no Pará e também ao alto nível de analfabetismo do estado.