Adotada pelo Brasil só a partir de 1960, a análise de solo é o principal mecanismo para medir a fertilidade do solo. Por meio dela é possível recomendar as quantidades de adubos e calcário necessárias para corrigir excessos ou deficiências de nutrientes.
A prática é essencial para o que dez entre dez produtores buscam: alcançar altas produtividades nas lavouras e calibrar a relação custo x benefício da atividade agrícola, seja ela qual for. Aplicar mais insumos que o necessário é custo; aplicar menos, também.
Nos últimos anos, a crescente demanda e a valorização desse tipo de informação impulsionaram o desenvolvimento de diversas inovações. As técnicas de análise de solo foram aprimoradas, ganharam novas ferramentas e tecnologias que proporcionam mais rapidez e precisão nos diagnósticos.
Antes restrita ao estudo das características físicas e químicas, a análise de solo avançou para novas frentes, como a avaliação genética e biológica. E tem quem vá ainda mais longe.
É o caso de duas jovens empresas do mercado brasileiro, a ConnectFARM e a ConnectBio. A primeira, de Inteligência Artificial, cruza diversos dados, como do solo, do clima e da genética das plantas para ajudar os produtores na tomada de decisão. A segunda usa a biotecnologia para prover informações da saúde do solo e identificar possíveis patógenos, que são prejudiciais para as lavouras.
As duas atuam juntas no cruzamento de uma série de informações que geram um diagnóstico mais preciso e completo para os produtores. “Nós utilizamos uma série de tecnologias, a análise de DNA do solo, análise enzimática, nós analisamos também dados físicos e químicos para trazer uma melhor resposta, uma resposta mais 360, vamos dizer assim, sobre a visão do solo”, disse o CEO da ConnectBio e sócio-fundador da ConnectFARM, Guilherme Lobato.
“Isso tem feito um diferencial para a tomada de decisão de empresas e produtores que buscam exatamente ter um resultado, não somente no curto prazo, mas no longo prazo, em cada talhão da fazenda”, completou ele.
Diagnóstico em segundos
Uma das principais inovações do setor que acaba de chegar ao Brasil veio por meio de uma parceria internacional. A Lavoro, uma das maiores distribuidoras de insumos agrícolas do País, anunciou recentemente uma parceria com a startup alemã Stenon para oferecer um serviço inédito de análise de solo em tempo real.
O FarmLab, tecnologia inovadora criada pela startup alemã, permite que os produtores identifiquem em poucos segundos os níveis de nutrientes do solo, como nitrogênio, carbono e pH. O equipamento já está disponível em alguns países da Europa e da Ásia, e será usado pela primeira vez na agricultura tropical.
Com essa tecnologia, a medição de nitrogênio e outros parâmetros do solo é feita direto na fazenda, por meio de um equipamento que funciona como um laboratório portátil e digital, com o tamanho semelhante ao de uma pá.
“Com essas análises, o agricultor consegue ter uma resposta em tempo real, podendo realizar os tratos culturais necessários logo após a amostragem, sem a necessidade de encaminhamento a um laboratório, como tradicionalmente”, informou a Lavoro, em comunicado oficial.
Análise biológica
Uma das frentes que tem recebido especial atenção da Embrapa é a análise biológica do solo. A empresa inovou ao lançar, em 2020, a tecnologia de Bioanálise de Solos (BioAS), uma ferramenta que facilita a identificação das melhores práticas de manejo e, também, daquelas que podem vir a degradar o solo e comprometer a produtividade.
A BioAS consiste na análise de duas enzimas (beta-glicosidase e arilsulfatase) que estão relacionadas ao potencial produtivo e à sustentabilidade do uso do solo. Elas estão associadas, respectivamente, aos ciclos do carbono e do enxofre e funcionam como bioindicadores da saúde do solo.
Quantidades elevadas desses bioindicadores indicam sistemas de produção ou práticas de manejo do solo adequadas e sustentáveis. Por outro lado, valores baixos servem de alerta para o agricultor reavaliar o sistema de produção e adotar boas práticas de manejo.
A tecnologia reúne hoje o maior banco de dados de atividade enzimática de solos do mundo, com informações de 30 mil amostras das cinco regiões brasileiras. Hoje, o Brasil é o único país do mundo que possui parâmetros biológicos, calibrados em função do rendimento de grãos e da matéria orgânica, nas análises de solo.
Em 2024, a rede de laboratórios habilitados pela Embrapa a oferecer a tecnologia BioAS foi ampliada. Agora 32 laboratórios de todas as regiões do Brasil estão oferecendo a bioanálise.
Outros 30 iniciarão testes de proficiência neste ano. A Rede Embrapa BioAS, formada pela empresa pública de pesquisa e pelos laboratórios comerciais, permite que a tecnologia de Bioanálise de Solos esteja disponível para todos os agricultores do Brasil.
A vida no solo
Outra inovação recente no Brasil é a análise genética do solo, que permite um conhecimento mais profundo dos terrenos. Antes coadjuvante, a composição microbiana do solo se tornou de fundamental importância para o desenvolvimento vegetal.
Os micro-organismos contribuem para a estruturação do solo, auxiliam no fornecimento de nutrientes, e na proteção de doenças, por exemplo. Por isso, quanto mais se conhece sobre a vida presente no solo, mais eficiente é a gestão de uso de insumos.
No Brasil, uma da tecnologia focada nessa avaliação genética é a Agri-Analysis, uma plataforma comercializada pela startup Biome4All que analisa o DNA de bactérias e fungos presentes no solo. A partir desta informação é possível estabelecer parâmetros de qualidade do solo, entender a produtividade agrícola e potenciais riscos à biossegurança.