Pesquisas comprovam que a pecuária pode capturar carbono da atmosfera. Recuperação de pastagens aumentou na década
Diferentes iniciativas apoiadas pela Embrapa, produtores rurais e empresas do Agro buscam aprofundar o conhecimento sobre como equalizar a questão das emissões de gases do efeito estufa (GEE) e o setor de produção agropecuária. Os resultados são importantes, todos eles baseados em pesquisa científica e estudos de caso.
Na pecuária, o projeto Carbono Araguaia busca responder a dúvida sobre quanto a mais de carbono um pasto reformado pode capturar. O trabalho é um dos seis apoiados pela Liga do Araguaia, um movimento de pecuaristas criado em 2014 nesta que é uma das principais áreas de floresta do Mato Grosso. Iniciado em 2015, o estudo deverá finalizar até o próximo mês de janeiro de 2021 os cálculos sobre esse acréscimo de carbono nas pastagens intensificadas. Trata-se de um dos maiores projetos de acompanhamento de propriedades privadas na implementação de boas práticas na pecuária.
Conforme informações divulgadas pelo Grupo de Trabalho Pecuária Sustentável (GTPS), apoiador da Liga, um pasto degradado emite cerca de 3 toneladas de CO2 equivalente por ano, volume 66% maior do que a emissão na forma de metano de um bovino adulto ou de óxido nitroso, proveniente de urina e fezes.
O cuidado com o solo, com disponibilidade de matéria orgânica, consegue reter mais carbono. Segundo o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Eduardo Assad, que também é integrante do comitê científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, o pasto recuperado deixa de emitir gases de efeito estufa e ainda captura 3,66 toneladas de carbono equivalente por ano. Além da recuperação do solo, o Carbono Araguaia, realizado em parceria com a JBS/Friboi, busca reduzir a idade de abate, melhorando a produtividade com reflexos positivos também nas emissões de GEE já que o bovino passa menos tempo no pasto emitindo metano.
Ter dados precisos e comprovados cientificamente sobre essa captura de carbono pelo solo é uma das principais necessidades para deslanchar a participação da agropecuária no mercado de carbono, acredita Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade da Divisão Agro da Bayer no Brasil. Ele comentou sobre o potencial do agro em atrair mais investimentos na série Vozes Responsáveis Ao Vivo, iniciativa da Produzindo Certo.
A empresa tem a iniciativa Carbono Bayer, também em parceria com a Embrapa, que busca desenvolver ferramentas de monitoramento e verificação de volumes de carbono capturados e estocados no solo a partir de boas práticas de manejo adotadas. O projeto da Bayer está sendo realizado no Brasil e outros países, como os Estados Unidos, com foco inicial na produção de grãos.
“O Brasil é um dos pioneiros em transformar Agricultura de Baixo Carbono (ABC) em política pública. Por exemplo o plantio direto, a integração Lavoura-Pecuária, fixação biológica de nitrogênio no solo. O Brasil é reconhecido como potência ambiental e agrícola. E a gente pode trabalhar os dois. O Brasil pode ser essa potência agroambiental. Como a gente traz essas ferramentas para provar que a gente é?”, explicou.
A atenção dos agricultores sobre o tema também vem avançando, interessados em aumentar a produtividade de suas fazendas e em se adequar a mercados mais exigentes. Um levantamento do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG) apontou a recuperação de 26,8 milhões de hectares de pastagens degradadas, uma área maior do que o território Reino Unido, em oito anos. Essas áreas adotaram o Plano ABC (Agricultura Baixo Carbono) e somam um volume superior à sua meta, de recuperar 15 milhões de ha. Imagens de satélites mostraram que a área total com pastagens classificadas como degradação severa caiu de 34,3% para 25,2% entre 2010 e 2018.
O estudo foi divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pesca (MAPA). Segundo as informações, a qualidade das pastagens cresceu mais em regiões do Centro Oeste e Sul do país, especialmente no bioma Cerrado. Por outro lado, pastagens classificadas com degradação leve ou não degradada cresceram, especialmente essa última, em que o crescimento foi de 95%. As avaliações consideraram os cerca de 5,5 milhões de propriedades com Cadastro Ambiental Rural (CAR). Nesses oito anos, a área total ocupada por pastagens variou de 171,6 para 170,7 milhões de hectares, demonstrando uma estabilização nessa ocupação na última década.
O Plano ABC é uma política pública nacional para incentivar a agricultura sustentável, que oferece financiamento com custo reduzido a agricultores interessados na adoção de projetos de agricultura sustentável. Ele foi lançado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP 15), em 2009, em Copenhague, na Dinamarca. Segundo o monitoramento do MAPA, de julho a setembro de 2020, as áreas agropecuárias com tecnologias de redução dos gases do efeito estufa financiadas pela linha de crédito do Programa ABC chegaram a 485,1 mil hectares – um avanço de quase 100% em relação ao mesmo período de 2019 quando o número era de 245 mil ha.
Mas ainda há espaço para aumentar o crédito rural vinculado ao desempenho ambiental dos estabelecimentos agrícolas e criar estímulos para quem produz com impactos positivos. O orçamento do Plano ABC representa menos de 1% do Plano Safra, que foi de R$ 225,59 bilhões em 2019/2020.
É por isso que iniciativas como o do Carbono Araguaia, realizado pela Liga Araguaia com a Embrapa e empresas do agro, e o Carbono Bayer, da empresa de agroquímicos também apoiado pela Embrapa, são tão relevantes. Elas reúnem conhecimento e podem oferecer aos produtores responsáveis as ferramentas para comprovar os benefícios de sua atividade e ingressar no mercado de crédito de carbono. No ano passado, o mercado de carbono movimentou US$ 214 bilhões, boa parte destinada a projetos de energia e transporte.