Ao contrário do que muita gente deve imaginar, a Aline Locks, CEO da Produzindo Certo, nem sempre conviveu com o universo da produção agropecuária. Formada em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso, ela é filha de professores e nasceu e cresceu em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.
Foi só em 2006, quando ela passou a fazer parte da recém-criada ONG Aliança da Terra, que o seu destino cruzou com a realidade do agronegócio brasileiro. A organização nasceu para auxiliar os produtores na adequação socioambiental das fazendas, objetivo que nortearia a fundação da Produzindo Certo anos mais tarde.
Foi um pouco dessa história e dos frutos gerados a partir dela que a Aline Locks contou em uma entrevista de cerca de 50 minutos ao Podcast do jornalista Luiz Patroni.
Mais do que contar como foi a fundação da empresa, na entrevista ela teve a oportunidade de falar sobre a estratégia de negócio, que sempre buscou gerar resultados econômicos aos produtores rurais a partir do investimento em sustentabilidade.
“Lá no final de 2018 a gente começou a perceber que a questão ambiental precisava parar de ser vista apenas sob essa ótica romântica e passar a fazer parte das relações comerciais dos produtores”, disse Aline durante o bate-papo.
A partir dessa perspectiva, a Produzindo Certo passou a focar nas empresas para que elas fossem responsáveis pelo incentivo inicial aos produtores. “As empresas contratam a Produzindo Certo pra que a gente leve esse apoio, essa assessoria para a sua cadeia de fornecimento”, explicou ela.
“A gente mirou nessa estratégia porque o produtor rural já tem que botar a mão no bolso para fazer as adequações que forem necessárias. Então a gente precisava achar outro player para ajudar a dar esse ponta pé inicial, esse incentivo”, complementou.
Salto de eficiência
Hoje a Produzindo Certo conta com cerca de 7.600 propriedades na sua plataforma, monitora mais de 7 milhões e meio de hectares e exibe a marca de quase 3 milhões e 300 mil hectares de vegetação nativa preservados.
A maior parte dessa área monitorada, 62% mais precisamente, está no Cerrado. Há uma área significativa também na Amazônia, além de outros biomas.
“Para uma fazenda fazer parte da plataforma, a gente faz uma visita técnica na propriedade e nessa visita a gente coleta informações relacionadas a três pilares: social, ambiental e produtivo”, destacou a CEO da Produzindo Certo.
Dentro desses pilares, são analisados diversos aspectos, como a situação do solo, as práticas utilizadas no plantio, a estrutura da propriedade, que também tem legislação ambiental associada, a parte social, além de toda questão ambiental.
Todas essas informações são processadas pela plataforma Produzindo Certo e geram um diagnóstico, um plano de ação para as adequações necessárias e score socioambiental da propriedade, que varia de 0 a 100.
Se no início esse processamento de dados demorava de quatro a cinco dias, hoje não leva mais que uma hora e dez minutos, o que mostra o ganho de eficiência da empresa no decorrer dos anos, graças, principalmente, ao investimento em tecnologia.
O monitoramento dessas propriedades é constante. Elas são monitoradas quanto ao desmatamento, são feitas consultas às listas de embargo, trabalho análogo à escravidão, tudo de forma remota.
“Além do acompanhamento das adequações. São feitas novas visitas técnicas para coletar essas informações e evidências”, explicou Aline.
Mas não basta ser sustentável, é preciso ser pago e valorizado por isso. Esse é outro ponto chave da estratégia da empresa que já ocorre na prática.
Parte dos produtores que estão na plataforma já é remunerada pelo mercado por adotar um modelo agropecuário mais responsável, além de terem acesso a outros benefícios, como vantagens na contração de crédito.
“A gente está sempre buscando parcerias que de alguma maneira valorizem os resultados ambientais desses produtores”, reforçou Aline.
“Mas por que esse modelo é interessante também para as empresas?”, perguntou o jornalista Luiz Patroni durante a entrevista. Para essa questão, a CEO da Produzindo Certo tem a resposta na ponta da língua.
“Tudo isso está relacionado a risco. Essas empresas não querem ter um risco de comercializar com alguma propriedade que está fazendo algo irregular. Elas comprando de propriedades que estão na Plataforma Produzindo Certo, que passaram por esse Raio X extenso, com diagnóstico e plano de ação, o risco dessa propriedade ter algum problema ambiental é muito menor”.
Próximo passo
Uma das metas da empresa agora é criar estratégias para dar ainda mais visibilidade à “pegada socioambiental” das fazendas que estão na plataforma.
“Com toda certeza a produção brasileira tem uma pegada ambiental maior do que qualquer outro lugar do planeta e é isso que a gente quer começar a demonstrar”, adiantou Aline Locks.
Para isso, a empresa pretende conquistar novos investimentos e trazer mais tecnologia para as ferramentas digitais. A ideia é fazer o mercado enxergar toda sustentabilidade que está embutida nos produtos que saem das propriedades monitoradas, como, por exemplo, em uma saca de soja.
“Toda pegada ambiental precisa acompanhar aquela soja para que a gente deixe isso mais claro para o mercado e para os consumidores. Esse é um ponto bastante importante e lá fora, infelizmente, o nosso agro não é visto dessa maneira”, disse Aline.
Confira a seguir a entrevista completa da nossa CEO, Aline Locks, ao Podcast do Patroni: