Na produção de milho safrinha do ano passado, o Grupo Kompier reduziu em 60% a utilização e fungicidas e em 50% o volume de inseticidas. Quem já está acostumado com a planilha de custos agrícolas de uma fazenda entende em detalhes o que isso representa no balanço financeiro da propriedade.
Quem não tem intimidade com essa gestão pode até não visualizar as minúcias, mas também se surpreende com tais números. Cortar pela metade, ou mais, uma despesa é empolgante em qualquer negócio.
Como na produção agrícola nada acontece por mágica, essa transformação tem uma explicação. É resultado de um processo que busca mais sustentabilidade e que exige dedicação, investimento e persistência.
Neste caso, o ponto de partida é uma mudança de conceito. Há três anos, a empresa deu um passo na direção do controle biológico de pragas e doenças nas lavouras de milho e soja, investindo em multiplicação de bactérias e fungos que dão origem a bioinsumos.
“No caso das bactérias, a prioridade é para doenças foliares. Já os fungos, para as pragas”, diz Wanderson Manenti, gerente agrícola do Grupo Kompier. “No entanto, é importante ressaltar que esses resultados vêm de um processo evolutivo. Estamos no terceiro ano dessa mudança”, acrescenta.
Ou seja, há uma sequência de adequações, adaptações, correções e melhorias para se ter avanços. E vários passos, que começaram pela mudança de cultura – de ideias mesmo – e pela implantação de um ciclo produtivo em que uma atividade fomenta a outra, simultaneamente. Para entender essa conexão, é preciso saber mais sobre o cenário.
Agropecuária na essência
O Grupo Kompier é uma empresa familiar que está há 40 anos na região do município de Montividiu (GO), a cerca de 50 quilômetros de Rio Verde e a quase 280 quilômetros de Goiânia. A companhia foi iniciada pelo casal Wilhelmus e Maria Kompier e passou a ter a participação dos filhos Marion, Patrícia e Paulo.
Atualmente, a família conta com duas propriedades, a Fazenda Brasilanda, de 1.600 hectares, a vitrine do negócio, e a Fazenda São Sebastião, de 1.300 hectares. As atividades estão se expandindo também para o município goiano de Aporé, a menos de 300 quilômetros da localização principal do grupo, onde estão sendo agregadas mais quatro fazendas, que somam 4.000 hectares.
Em relação às atividades agropecuárias, as principais são a produção de leite e o cultivo de milho e soja. A extração leiteira, que já esteve perto de ser cortada dos negócios, colocou a empresa entre os principais nomes do País. Atualmente, o volume diário chega a 27 mil litros de leite. São 750 animais em lactação, com produção média de 35 litros por dia.
Na agricultura, são 7 mil hectares cultivados com soja, 5 mil hectares de milho safrinha e 1 mil hectares de sorgo safrinha. A produtividade média é de 75 sacas por hectare com a soja, 145 sacas por hectare com o milho e em torno de 80 sacas por hectare com o sorgo.
Toda essa trajetória fica mais consistente e assertiva quando se tem o acompanhamento de um olhar técnico bastante apurado. O caminho do Grupo Kompier na busca pelos melhores resultados agrícolas, zootécnicos, socioambientais e até de gestão, passa também pela Plataforma da Produzindo Certo. “Temos uma parceria com eles há muitos anos”, afirma Manenti.
Ciclo virtuoso
É a partir do manejo em cada uma dessas áreas que surge a sinergia da sustentabilidade. Há mais de dez anos, as 2 mil cabeças de animais das raças Holandesa e Girolando passaram a ser tratadas em um sistema de compost barn. São três barracões que oferecem mais conforto ao gado, tanto pela ventilação quanto pela cobertura do chão, que é formada por uma grossa camada de material orgânico.
Quando é feita a troca dessa forração, também chamada de cama, a que foi retirada é transformada em uma rica matéria-prima para produção de adubo orgânico. Por ano, são retiradas 4 mil toneladas dessa cama, que dão origem a um volume entre 10 mil e 12 mil toneladas de composto orgânico.
“Hoje, utilizamos apenas o nitrogênio para cobertura do milho safrinha. Todos os outros nutrientes exigidos pelas lavouras são fornecidos por esse composto orgânico”, disse Manenti.
O que era um problema, um passivo ambiental, acabou se tornando uma solução. O ganho de produtividade nas lavouras – seja em volume, seja em qualidade – retorna para o rebanho como alimento.
Essa renovação no trato agrícola, com uma melhor preservação dos solos, abriu caminho também para a entrada dos bioinsumos na área de proteção vegetal. “Participando do Grupo de Agricultura Sustentável (GAAS), passamos a ouvir muitas conversas sobre a redução do uso de produtos químicos e da redução de custo que isso representa”, afirmou Manenti.
Era o passo inicial para entrarem de vez na área de bioinsumos e da agricultura regenerativa. A multiplicação de bactérias e fungos para produção de defensivos biológicos surgiu como uma alternativa aos químicos. A empresa chegou a montar uma biofábrica, especificamente para lidar com as bactérias.
“Compramos biorreatores e buscamos os meios de cultura com outras companhias. Tem nos ajudado muito na proteção de doenças”, comentou Manenti. Já o processo dos fungos, mais complexo, mais demorado e mais caro, é terceirizado. Mas ainda com a participação do Grupo Kompier, pois é feito por uma empresa formada por produtores.
Segundo Manenti, ainda há muitos desafios pela frente, como a substituição de fungicidas químicos pelos biológicos na soja, algo em que já estão trabalhando. E o aperfeiçoamento do processo como um todo.
Nova visão de negócio
O manejo das lavouras com os defensivos biológicos trouxe também outros cuidados, como a utilização de um mix de plantas de cobertura, que aumentam a disponibilidade de matéria orgânica na terra. E de alimento para os fungos e as bactérias de solo. Conforme vão mudando os ciclos das culturas, ocorre uma reciclagem de nutrientes, e todo esse processo impacta positivamente na qualidade das plantações.
O desafio de colocar tudo isso em prática passa pelo convencimento de todos os envolvidos na mudança, desde a diretoria da empresa até as equipes que estão na lida diária com o campo. Segundo Manenti, essa conscientização tem avançado bem, já estão passando do terceiro para o quarto ano nessa evolução e a aceitação e o envolvimento ocorrem de maneira satisfatória.
Agora, já começam a buscar um olhar diferenciado também do lado de fora da porteira, com uma maior valorização do que estão realizando. Para Manenti, esse passo tem de ser coletivo, avançar como categoria. “Precisamos levar essa comunicação como grupo de produtores, mostrando e comprovando que fornecemos alimento de qualidade, saudável”, disse o gerente.
Pode ajudar o fato de estarem em uma região na qual esse conceito de agricultura regenerativa já tem se espalhando por outras propriedades. Já há outros produtores trabalhando com o mesmo conceito, e vem crescendo o número de pessoas interessadas em conhecer e entender essa mudança. É a sustentabilidade abrindo novos caminhos.