O próximo ano promete safra recorde e muitos desafios. Confira uma lista de tendências emergentes na agenda do agro para ficar antenado
Fim do ano e muitos especialistas, empresas e produtores rurais fazem estudos, análises e projetam o futuro. Embora muito da próxima safra agrícola já esteja definido, o radar para os temas mais emergentes deve estar sempre ligado enquanto o Brasil encaminha novos recordes produtivos, mesmo com os desafios climáticos e da pandemia.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a safra de grãos 20/21 será de 268,9 milhões de toneladas, segundo levantamento divulgado em novembro passado. O volume é recorde e representa um crescimento de 4,6% em relação à safra anterior, ou mais 11,9 milhões de toneladas. A demanda global por alimentos também seguirá em alta, assim como os valores para exportação, em linha com a alta demanda por commodities no mundo e o câmbio favorável para quem vende lá fora. As previsões preliminares do Ministério da Agricultura apontam que os produtores rurais devem faturar R$ 948,2 bilhões no próximo ano.
Mesmo com a projeção positiva para a safra, o cenário de 2021 ainda deve apresentar desafios que podem afetar a agenda do agronegócio brasileiro. O Rabobank, banco holandês líder mundial em financiamento do agronegócio, ressaltou a resiliência na pandemia, mas, para 2021 aposta que as relações EUA-China continuarão tensas, com reflexos incertos.
A pandemia, como muito tem se falado, acelerou mudanças de hábitos de consumo e algo transformador ocorre na alimentação. Passando mais tempo em casa, as pessoas estão (re)descobrindo a riqueza dos ingredientes e a importância dos alimentos mais frescos e saudáveis em sua rotina. Segundo o relatório anual de tendências da Whole Foods, varejista norte-americana e líder mundial em alimentos naturais e orgânicos, as pessoas estão prestando mais atenção às refeições antes atropeladas pela correria, como o café da manhã. E os alimentos elaborados para beneficiar o sistema imunológico, algo que já vinha despontando nos últimos anos, estão ampliando a sua popularidade.
A ADM, líder global em nutrição e parceira da Produzindo Certo na produção de soja responsável, também divulgou o que considera as cinco principais tendências que afetarão o que as pessoas comem e bebem em 2021. A empresa também destaca os ingredientes naturais, ricos em nutrientes e que carregam benefícios funcionais para a saúde e o sistema imunológico, além do interesse por produtos plant-based (vegetais).
Todas essas tendências refletem no campo, com o aumento da demanda por alimentos mais frescos e insumos com maior qualidade. E não se trata apenas de ter mais matéria-prima natural ou vegetal disponível, essas questões vêm associadas a outros aspectos relacionados à sustentabilidade, incluindo a compra responsável e padrões operacionais, como detecta a ADM.
E aí entra a agricultura regenerativa, com técnicas usadas para enriquecer o solo, reduzir carbono e proporcionar melhorias no ciclo da água, além de materiais renováveis com base vegetal para o desenvolvimento de novas embalagens, como amido de milho e até algas marinhas, reduzindo o impacto com a destinação final. Tudo associado, claro, a práticas verificação da cadeia de fornecimento e rastreabilidade.
Como se vê, especialistas apostam nas questões relacionadas a critérios ESG que devem estar cada vez mais na agenda do produtor rural. Para além desses desafios, a tecnologia como ferramenta para ampliar produtividade e intensificação dos cultivos pode permitir ganhos exponenciais. É a agricultura 4.0 que oferece tecnologias integradas e conectadas, melhora a gestão, o planejamento e o controle de todo o processo produtivo.
Confira a seguir algumas das principais tendências que devem estar na pauta do agro em 2021:
- Carbono: as mudanças do clima seguem na pauta do dia e sua pressão sobre o agronegócio tem impulsionado o avanço em pesquisas científicas que buscam entender como o manejo do solo pode se reverter em mais benefícios para a captura e armazenamento de gases de efeito estufa (GEE) no solo.
- Títulos verdes: o avanço de técnicas de manejo, sistemas mais harmônicos com a biodiversidade e as florestas e os sistemas de avaliação e mensuração desses impactos do agro vão influenciar o crescimento de outro mercado, o de green bonds, ou títulos verdes. Hoje mais adotado em áreas de energia renovável e papel e celulose, especialistas e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontam que é na agricultura que o mercado de finanças verdes tem grande potencial de crescimento, e podem se tornar uma nova fonte de financiamento dos produtores e a custos competitivos. Atenta a essa tendência, a Produzindo Certo elaborou parceria com a Traive Finance e o Grupo Gaya para oferecer a produtores créditos e seguros lastreados por finanças verdes e com condições especiais para quem produz respeitando as melhores práticas socioambientais.
- Novas soluções tecnológicas: o sensoriamento remoto já é uma realidade no campo, com o uso de drones, satélites e sensores. Tecnologias como Inteligência Artificial e melhor conectividade (inclusive com a chegada do 5G) devem, no entanto, permitir que o monitoramento de lavouras e pastagens suba para um novo patamar, atualizando as definições de agricultura e pecuária de precisão.
- Produtos plant-based: segundo pesquisa da ADM, 56% dos consumidores estão buscando ingerir mais alimentos e bebidas vegetais. A demanda por produtos à base de proteína vegetal ganha popularidade de forma acelerada, incluindo opções de hambúrguer vegetais, queijos, lanches proteicos, entre outros. Muitos deles, prometendo fornecer mais proteínas, vitaminas e minerais e probióticos.
- Agricultura regenerativa: o termo define a produção que não apenas mitiga impactos negativos, como é capaz de reabilitar e manter culturas e todo o sistema de produção alimentar, que envolve também comunidades rurais e consumidores, e gerar benefícios ao meio ambiente. Isso inclui, por exemplo, práticas para enriquecer o solo que aumenta a capacidade de captura de carbono ou restabelece recursos hídricos.